segunda-feira, 6 de março de 2017

Capítulo 020 – Aqueles que não se apresentam


Capítulo 020 – Aqueles que não se apresentam

Dentre os guardiões haviam dois que permaneciam ocultos até mesmo de Teon de Serpentário. Esses guardiões eram Sarah de Serpentário e Luge de Ophiucus.

Por não estarem no treinamento com os demais recebiam instruções de Sig de Gêmeos por ordem direta de Atena.

Sarah, a irmã de Teon, era uma aura formada. Pela participação na elite do exército de Poseidon ela conhecia as nuances do cosmo, e apenas aprendeu as técnicas secretas da Ordem de Serpentário. Numa circunstancia mais confusa ela foi seduzida pelo poder de Poseidon, assumindo a posição de General Marina do Atlântico Sul, Sirene.  Ela foi resgatada por Leo e Lyra, e recebeu a misericórdia de Atena e o perdão de Lyra e Régia.

Luge de Ophiucus, assim como Sarah é lemuriano, e o grande amor de Lyra em sua juventude. Ele era um dos guerreiros mais astutos do exército da ilha dos alquimistas. Na linha de frente, a serviço de Atena, ele enfrentou hordas de marinas de  Poseidon, e comandava a resistência de Lemúria contra a invasão pelo deus dos mares.

Em certo ataque a ilha a General Marina de Sirene, Sarah,  enfrentou pessoalmente Luge e sua ordem de soldados. Depois de um longo confronto, após poupar alguns de seus soldados Luge desaparece no mar. Lemúria triunfara mais uma vez, mas a custa da vida de muitos de seus guerreiros. Os tempos eram outros, e Sarah e Luge agora eram colegas na Ordem de Serpentário a serviço de Atena.

Sarah mais uma vez foi perdoada, e junto a Luge compartilhava não apenas a grande amizade, mas o pesar de não poderem estar com suas pessoas mais queridas. Após a conclusão de seu treinamento como Aura, Sarah se recolhera por ordem de Sig.  Seu alento era poder estar com Oriti, esporadicamente. Luge não tinha a mesma oportunidade com sua amada, apesar de acompanhar seu coração fiel.

Teon teve a oportunidade de ver Sarah por algum tempo, após sua redenção junto a Atena, mas Lyra não teve a mesma sorte com Luge.

Sarah e Luge, assim como Sig, em pouco tempo aprenderam as técnicas de cura dos guardiões, e de forma oculta recrutavam novos Aurums e Auras para a Ordem dos Guardiões sob a orientação direta de Sig de Gêmeos.

Para esses guerreiros de elite, além da proteção do cavaleiro de Serpentário e da amazona de Ophiucus, havia a tarefa do recrutamento de novos guardiões, mas uma tarefa especial a estes foi transmitida pela própria deusa Atena. Considerada um importante marco para o exército de Atena,  a eles foi incumbida a proteção dos cavaleiros e amazonas em potencial, ainda que estes não estejam em condições de treinamento. 

Essa nobre missão levava os dois ocultos guardiões as diversas partes do mundo para a salvaguarda daqueles que emitissem do simples lampejo de cosmo a sólida manifestação de cosmoenergia sem a proteção de Atena.

O cosmo de um cavaleiro ou amazona sempre queima quando a situação foge dos recursos naturais. Os guerreiros em momento de superação ultrapassam os seus sentidos, e ao tocar a sétimo sentido, oculto e sobrenatural faziam brilhar seu cosmo. Como uma fagulha prestes a causar um incêndio.

Sarah e Luge por serem lemurianos possuíam alta capacidade extrassensorial. Com o treinamento dado por Sig de Gêmeos, eles melhoraram sua percepção para pequenos cosmos.

Era um dia comum, e Sarah sentiu um leve cosmo bem ao norte. Ele brilhava de forma intensa, indicando claramente que alguém acionava sua cosmoenergia como defesa. Luge também percebeu, mas sentiu que Sarah já estava a caminho.

Teletransportando-se Sarah notou ser uma grande ilha. No local não se via ninguém, apenas um grande rio, ao qual quase não se conseguia ver a margem oposta. Seguindo por um pequeno rio que nele desaguava a aura encontraria uma menina.

A menina estava encurralada num bosque, e dois homens a perseguiam. Ela tentava fazer novamente surgir aquela luz que havia derrubado outros dois homens há minutos atrás, mas não tinha sucesso. Exausta, e com suas súplicas de ajuda sem resposta, ela preparava-se para o pior.

Os homens, por seu vigor físico superior, estavam cansados mas persistentes, aguardando apenas a queda da garota.
Os cabelos negros longos contrastavam com a pele branca e rosto ovalado singelo da menina. Seu vestido estava rasgado, pela primeira investida do grupo de homens. Sua silhueta fina, mas formosa era o motivo daquela perseguição insana.

Desesperada, num último esforço, ela tentou obter a luz que a salvara tempos atrás, quando repentinamente de seu corpo frágil emana luz que toma o ambiente e ofusca tudo ao redor. Completamente esgotada a menina cai, e a sua mente paira uma certeza:

— A perseguição acabou! Eu perdi ... tudo! Pensa.

A luz se dissipa e a imagem era diferente do esperado por todos. Se via uma mulher ainda mais formosa com a criança nos braços, e os dois homens ilesos a grande energia emitida.

Sarah coloca a pequena no chão, num monte de folhas caídas juntadas pelo vento que circulava em forma de redemoinho.

Os homens dialogam e riem, pensando naquele momento haver ainda melhores possibilidades. Eles pensam em caminhar até Sarah, mas esse pensamento lhes custaria muito caro.

Apesar da fúria da aura pela situação que presenciou, Sarah tinha o equilíbrio necessário para resolver tudo, e a certeza de que aquela perseguição não sairia impune.

A aura reúne os ventos generosos com o calor do seu cosmo, reunindo junto a eles as folhas ali presentes num grande redemoinho. Com um comando de mão ela lança o pequeno ciclone contra os homens, que envolvidos pelos círculos giram errantes batendo em si próprios e nas árvores para onde seguia a massa de vento errante.

Sarah fecha a mão e liberta o vento de seu domínio, com a queda um sobre o outro dos homens em seu último sopro de vida.

— Você é um ... Demônio! Fala o último a morrer após uma tosse de sangue.

— Você não viu nada! Responde Sarah.

Ele morre e Sarah vê sua missão cumprida. Ela recolhe a menina e sai em busca de abrigo, visto que a tarde começava a cair e em breve ficaria escuro. Ela acha mais ao alto uma cabana de caça abandonada, mas segura.

Sarah limpa o local, coloca a menina, e sai para providenciar lenha e comida no bosque. Ela bem conhecia essas práticas de sobrevivência, na ocasião de seu isolamento na caverna em Lemúria. 

A noite cai, e na cabana aquecida com cheiro bom de comida acorda a menina assustada. Ela vê de costas uma mulher de longos cabelos amarrados num rabo de cavalo, com um conjunto de peças de couro e fivelas de metal, blusa e saia, que ao perceber seus movimentos vira-se para ela.

A menina estranhando o conforto e recuperação, sem nada entender prepara-se para novamente fazer surgir aquela luz que já a salvara. Ela se detém ao olhar o rosto de Sarah, e sentir sua cálida energia.  A aura sai em sua direção com uma cuia de comida e outra contendo um liquido.

A menina não sabia explicar como, mas sabia com sua alma que a mulher diante si não a trazia ameaça. Ela come e bebe com voracidade.

— Acalme-se menina! Diz Sarah confortando-a. — Coma devagar, e não tenha medo. Por hora se alimente. Depois conversaremos. Está aquecida?

— Sim. Obrigada. Responde a menina. — O que é essa água? Estranha a menina a bebida.

— Na minha terra chamam de chá. Responde Sarah. — Minha mãe era especialista em chás. Sinto saudades! Você gostou?

A menina mais a vontade sorri. Era a primeira vez que ela sorria há tempos.

— Sim! Responde. — Me chamo Riana, e você?

— Sarah. 

Riana olha em volta. Estava perdida.

— Onde estamos? Pergunta a menina. — Como vim parar aqui?

Sarah ajoelha-se perto da cama feita de troncos, galhos, e peças de couro, onde Riana estava já sentada comendo e continua a responder suas perguntas.

— Sou do exército de Atena, e vim porque você me chamou. — Vim de Atenas atrás de sua luz.

Riana Sorri.

— Minha luz ...

— Sim, por sua luz. Prossegue Sarah. — Ela me guiou até você. Sabia que estava em perigo. Estava lá quando estava encurralada e ela veio, e te segurei da queda. Dei uma lição naqueles homens, e te trouxe para cá. Você dormiu bastante e aqui estamos.

A menina sente seu corpo muito dolorido.

— Quanto tempo eu dormi?

— Dois dias. Teu cosmo precisava desse tempo. Responde Sarah

— Como? Riana estava apavorada.

Sarah ri e aprofunda a explicação.

— A tua luz é fruto do cosmo. Uma energia que temos dentro de nós, como um universo prestes a explodir. Quando ele explode você pode rasgar os céus, e rachar a terra com um só movimento de braço ou perna. Essa é a essência do poder dos cavaleiros, amazonas, auras e auruns de Atena.

Riana agora estava admirada com sua luz.

— Tudo isso? Eu explodi esse “cosmo” foi? Foi porque estava em perigo?

— Sim. Responde Sarah. — Sua condição de perigo te forçou a explodir seu cosmo. Você pode controla-lo, basta apenas treinamento.

Sarah cria uma esfera de luz com as mãos, e depois a dissipa.

— Uau! Admira-se Riana. — Eu quero isso! A menina estava animada.

— Mas ... Pondera Sarah. — Esse poder só deverá ser usado para a justiça. Poder, ganância e vingança não podem ser motivos. 

Riana se lembra de sua história recente e sorri.

— Eu entendo. Firme comenta a menina. Meu pai me vendeu àqueles homens. Minha mãe não fez nada, mas minhas irmãzinhas não poderiam sofrer. Eles matariam meu pai, acabariam com minha mãe, comigo e ...

Riana chora ao lembrar-se de sua família, e do ato de seus pais.

— Minhas irmãzinhas. Completa. — Eles tinham poucas escolhas, mas e aqueles homens?

Sarah se prepara para responder quando alguém bate a porta da cabana.

— Esconda-se. Ordena Sarah.

A porta estava uma senhora com uma grande preocupação estampada no rosto.

— Uma mulher ... Estranha a senhora a presença de Sarah numa cabana de caça. — Isso não importa. Viu uma menina nessa floresta. Meu marido e eu cometemos um erro terrível. Entregamos nossa menininha nas mãos de monstros por temer por nossas vidas. Foi um grande erro, foi um grande erro!. Eles morreram perto daqui. Um urso deve tê-los atacado, mas nossa menina não estava lá. Havia pegadas que acabam perto daqui. Por favor, você viu nossa menina?

Sarah olha para dentro, e Riana que ouvira sua mãe todo o tempo surge diante dela.

A senhora se ajoelha e pede perdão a menina. Sarah toca o ombro de Riana, e cochicha em seu ouvido.

— Ainda hoje não me sinto digna, mas todos que machuquei me perdoaram. Sarah fala a menina de sua vida. — Perdoe! Se tivesse feito o mesmo que ela daria tudo para ouvir um sim seu.

Riana pega nas mãos de sua mãe e a levanta, respondendo.

— Sim, eu os perdoo. Já havia os perdoado minutos atrás.

A mãe da menina sorri.

— Mas ... Continua Riana para a mudança de semblante da sua mãe. — Vou com Sarah. Descobri que tenho algo especial em mim. Posso ajudar a muitos outros. Vocês moram em meu coração, mas seguirei o meu próprio caminho a partir de agora.

Riana olha para Sarah, que sorrindo sinaliza com a cabeça em sinal de positivo.

— Vou me preparar. Continua Riana. — E antes de ir estarei com vocês. Diga ao meu pai que o entendo.

Os olhos daquele senhora, antes transtornados de remorso e perda, agora estavam felizes e cheios de esperança. Ela beija a filha no rosto, e dá um longo abraço apertado. A Sarah seu olhar agradecido dizia tudo. Ela segue de volta, encontrando os homens do vilarejo que a aguardavam com tochas de madeira.

A noite seria tranquila para Riana e Sarah, esta última com a sensação do dever cumprido. No dia seguinte pela manhã Sarah reúne suas coisas, enquanto Riana feliz aguardava. Iria rever sua família depois de tudo que passara.

Chegando ao vilarejo, a casa de Riana era a mais alegre de todas. Todos a saudavam. Gostariam que suas crianças perdidas voltassem como voltara Riana.

A casa Riana e Sarah foram recebidas com carinho. As gêmeas Maria e Annie pareciam ter a mesma determinação de Riana.  Ali elas ficaram até a manhã do dia seguinte. 

Após aproveitarem de um farto café da manhã, montado com doação de todos, elas partem para o Santuário. A essa altura todos sabiam da honra dada a o local por Riana, pois uma filha de Gales integraria o exército de Atena. Até a chegada de Sarah ninguém antes havia visto um soldado de Atena, e nem sequer suas lendárias armaduras. 

Sarah ali retornaria algumas outras vezes, com a autorização de Sig de Gêmeos, por vezes com Luge. Ela ajudaria aquela família e aquela vila a prosperar, como parte do pagamento da dívida que acreditava que tinha. Apesar das justificativas Sig sabia haver outros dois motivos.

A VANGUARDA DO EXÉRCITO DE ATENA ESTAVA GARANTIDA. O AMOR DE ATENA EXPRESSO ATRAVÉS DA ORDEM DE SERPENTÁRIO IA ALÉM, BEM MAIS ALÉM.

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