Confortavelmente sentada Atena revela o verdadeiro objetivo de sua viajem ao reino dos cristais, ao atento olhar de Asclépio.
— Acompanhaste a última batalha ocorrida na Superfície da Terra. A luta foi árdua e muitos de meus valorosos guerreiros perderam suas vidas. Não desejo que sacrifícios como esses ocorram novamente. Gostaria de poder curar o corpo e a alma de meus guerreiros, e evitar sua morte no campo de batalha.
Visivelmente emocionada Atena respira e se recompõe.
— Venho em busca de seu legado. O poder de cura a meus guerreiros. Legado a ser passado a novos oitenta e oito soldados, para minimizar a dor do passamento da morte ...
Asclépio percebendo o momento, confirmando informação já sabida previamente, faz brotar do chão três pequenos cristais de cores azul, dourado e branco.
— O cristal dourado representa a alma. Explica Asclépio. — O azul representa o corpo, e os cristais claros representam o equilíbrio buscado entre ambos. O branco é o equilíbrio perfeito, atingindo mas nunca possuído.
Atena associa o que acabara de ouvir como o sétimo sentido atingido em momentos de necessidade pela força de vontade na luta.
Como numa transmissão de pensamentos Asclépio e Atena olham um para o outro e Asclépio sorri.
— Esse equilíbrio compara-se ao sétimo sentido de seus cavaleiros. Não pensavas nisso Atena?
Ainda mais surpresa com a perspicácia de seu anfitrião, confirma Atena a informação.
— És transparente em sentimentos, Atena. Pondera o deus. — Seu amor á humanidade é notável.
Nesse momento com um leve movimento de braço surge na mão direita do deus um cajado. De cor dourada e ornamentado por uma serpente prateada entrelaçada no corpo do cajado, brilhava o objeto, principalmente os dentes da serpente esganiçados.
Asclépio segurando firme seu cajado bate com ele no chão.
— Esse cajado é meu legado de poder. O disseminador da cura aos enfermos de bom coração. Ele possui o pode da Redenção aos que não mais habitam esse mundo, e da Maldição àqueles que vivem para espalhar o mal.
Desviando seu olhar para o chão entre os tronos surge a imagem do campo de batalha na terra, toda a destruição causada, as dezenas de lápides dos guerreiros mortos e os enfermos.
Atena triste pela realidade de seu reino faz surgir seu báculo, e a Asclépio olha profundamente.
O deus entende ser o momento e pronuncia com imponência as palavras que selariam de vez a relação dos dois mundos.
— Eu Asclépio, senhor da cura, concedo a deusa Atena, senhora da Sabedoria e da Guerra Justa, regente do Sekai, meu legado, minha herança de conhecimento do corpo, espírito e da vida. Em troca exijo a propagação da Redenção, aos puros de coração, e da Maldição, aos impuros de alma, com a formação de uma legião de homens curadores de homens, viventes por todas as gerações da Superfície da Terra. E que a quem for merecedor, que se leve luz ou trevas.
Atena após audição silenciosa profere suas palavras.
— Aceito a oferta. Juro utilizar com sabedoria o legado recebido para o bem de todos os homens e mulheres de meu reino. Dando o tratamento merecido a quem for destinado a isso. Aos humanos, árduos defensores da Superfície da Terra, transmitirei o poder recebido, para que se faça a cura com a responsabilidade geração após geração. A nova ordem de Guerreiros sob meu comando, a Ordem de Serpentário que fará deste legado sua missão.
Os deuses, como em transmissão de pensamentos aproximam ao centro seus instrumentos de poder. O báculo de Atena, a representação da deusa Niké, fiel colaboração da deusa e outrora vital na batalha vencida contra Poseidon, brilha manifestando o quente a amoroso cosmo da deusa. Também Asclépio empunha com vigor seu cajado, manifestando todo o brilho de seu poderoso cosmo. A luz emanada pelos dois cosmos anula o brilho dos cristais e encerra a visão da Terra, antes compartilhada pelos deuses.
Após cessar o intenso brilho uma forte luz dourada se faz persente, e a serpente prateada do cajado do deus transferem-se ao báculo e Atena. Elas tomam a cor dourada e percorrem o corpo do objeto da base ao seu topo, repentinamente o brilho se desfaz em uma grande explosão. Como num Big-Bang surge no ar uma peça de cristal, e intercaladas as cores dourada e azul se manifestam, convertendo-se na cor branca similar ao pó de diamante dos céus da Sibéria Oriental.
Afastando-se os objetos levanta-se Asclépio, oferecendo gentilmente a mão para que também o faça Atena. Instantaneamente o trono ocupado por Atena retorna ao chão, da mesma forma como surgiu. Surgem como num piscar de olhos os cinco guerreiros que receberam a deusa em sua chegada àqueles domínios, em reverência.
Feliz por sua conquista em vitoriosa jornada e confortável com a presença dos guerreiros de Asclépio, Atena retribui a reverência recebida.
Asclépio repentinamente desaparece, e dentre os cristais ecoa a mensagem:
— Sigas em paz a seu lar, — Sekai —, que tanto amas e abriga os que por sua paz deram a vida. Leva conforto a seus súditos. Assim, dou minha missão divina como cumprida.
Os Lumini em formação de pentágono se levantam, acendem seu cosmo, e conduzem Atena de volta Terra.
Num jardim, em algum lugar de seu reino, Asclépio assiste a viajem de Atena. Certo da palavra de Atena, o portal se fecha. Atena já está em seus domínios.
Na Terra, Grécia, Atenas, no Templo de Niké-Atena, de pé no mais alto degrau da longa escadaria encontrava-se Leo de Áries, que de conhecimento do retorno de sua deusa ali se postava a recebê-la.
Uma grande luz surge no pé da escadaria, e como num piscar de olhos surge Atena a poucos metros do chão em suave descida. Leo, feliz por seu retorno, inicia sua descida em direção à Atena, quando repentinamente na velocidade da luz desce o Cavaleiro Dourado de Áries e toma a deusa nos braços. O grande esforço da viagem de volta a havia esgotado, e não mais de pé podia sustentar-se Atena.
Já em seus aposentos, após minucioso exame de saúde, a deusa por telepatia cumprimenta Áries que ansioso por notícias nas portas do grande salão aguardava.
— Obrigada por sua recepção e preocupação, Leo de Áries. Diz Atena. — Irei a Lemúria em quatro dias. Espero sempre poder contar com sua presença e proteção.
Leo, escondendo a satisfação por telepatia afirma.
— Sempre que for preciso estarei presente. É minha palavra como cavaleiro.
Atena coloca a cabeça no travesseiro com sua mente imersa em decisões a serem tomadas.
ATENA RECEBE O LEGADO DE ASCLÉPIO. BROTA A SEMENTE DA ORDEM DOS GUARDIÕES.
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