A Ordem dos Guardiões estava nascendo, e era necessário iniciar o treinamento dos Aurum e das Auras.
O grande desafio era recrutar os homens e mulheres que vestiriam as Crystallus, dispostos a agir secretamente pelo bem do exército de Atena.
Contam os antigos que todo ser humano nasce sob a proteção de uma estrela. Algumas de brilho intenso, outras nem tanto.
Algumas pessoas nascem sob a proteção de uma constelação, esses são especialmente capazes de utilizar todo o seu potencial, despertar todo o seu Universo interior. Esses privilegiados são os potenciais Cavaleiros e Amazonas de Atena.
Mas há pessoas que possuem proteção igual, mas tem sua força vital regida especialmente por uma estrela, a mais brilhante de sua constelação. A essas pessoas Atena reservou as vestes de cristal, e a honra de compor a sua nova ordem de guerreiros.
Nessa fase do projeto de Atena compreender as estrelas e seu brilho seria essencial, mas para isso a deusa já tinha seus planos.
Ariadne sob ordens de Atena foi para a Sibéria — Vila de Graad, outrora duramente castigada pelas forças de Poseidon, para conhecer o que registraram os sábios antigos sobre a arte de ler as estrelas.
LESTE DA SIBÉRIA
Saudosa de tudo que ocorrera ali num passado não muito distante, Ariadne reencontra sua amiga Ada.
— Há quanto tempo, Ada. Saiu de Atenas sem dar notícias. Sem se despedir. Fiquei preocupada.
Sorridente, Ada recebe a velha amiga.
— Seja bem vinda de volta. Comigo está tudo bem, Ariadne. Estou muito feliz por revê-la, amiga.
Elas se abraçam longamente, matando as saudades de muito tempo separadas.
— Soube que estavam reconstruindo a vila, e vim ajudar na reconstrução. Voltei para casa, só isso. Responde Ada.
Ariadne retribui a calorosa recepção com um largo sorriso.
— Isso me deixa muito feliz. Sorri Ariadne.
Ada, informada previamente da missão da amiga, a confirma.
— Vieste conhecer a biblioteca, estou certa? Sob ordens de Atena.
Surpresa com o rígido planejamento de Atena a recém-chegada franje a testa.
— Recebemos de Atenas um comunicado. Informa Ada.
— Sim. Confirma Ariadne. — Você se lembra de quando minha mãe nos ensinava? Sua mãe, desculpe ... Ariadne fica preocupada.
As lembranças do retorno de Aria a vila devastada ainda povoavam a mente das duas amigas.
— Não se preocupe. Diz Ada sorrindo. — Vi quando Atena a levou. Sei que está bem onde quer que esteja.
Ariadne se lembra dos momentos felizes com saudade.
— Sim, era divertido e sempre levávamos na brincadeira.
Ada, com um semblante mais sério retorna a conversa à realidade, e na missão que trazia Ariadne àquele lugar novamente.
— Mas agora Atena precisa de nós, e do que aprendemos com minha mãe. Afirma Ada.
Feliz com o amadurecimento de Ada, Ariadne volta a sua atenção ao presente, com a empolgação da época da infância.
— E a ajudaremos! Com certeza. Afirma a amazona de Aquário.
A jovem anfitriã sorri, e junto a Ariadne segue para a nova Vila de Graad.
Elas caminham até uma casa modesta construída no pé de uma montanha. No local haviam materiais diversos, mas nenhum deles aparentava tratar do assunto que ali a levara.
Mais ao fundo, depois de um corredor num simples cômodo encontrava-se uma estranha parede de madeira. Ada move parte da parede e um corredor entre as pedras montanha adentro se mostra. Ada segue por ele e Ariadne sem nada entender faz o mesmo.
A umidade do local só aumentava, e o barulho de águas caindo também. Após uns cem metros de caminhada numa trilha montanha acima, a luz avistada desde o começo do caminho torna-se mais intensa. Era uma belíssima gruta, onde se encontrava a verdadeira biblioteca de Graad.
No local via-se prateleiras de madeira e muitos pergaminhos expostos. Diversos baús com inscrições dos mais diversos assuntos também podia se ver.
No teto estava a explicação da intensa luz vista desde o começo da trilha, um universo de diamantes como rico ornamento, lembrando nitidamente uma noite de céu limpo. O ambiente tinha uma agradável temperatura, visto a corrida de água que descia do alto da montanha, formava um pequeno lago, e mais a frente seguia montanha abaixo.
Uma estranha sensação de bem estar se sentia. Uma forte energia envolvia aquele lugar, como se as águas possuíssem uma cosmo-energia própria.
Ariadne olha mais atentamente a descida de água ao pé da montanha e se localiza.
— Estamos no alto da montanha, e mais abaixo é a fonte. Será por isso que a fonte resistiu ao ataque do Kraken? Esta energia ... Ariadne estava surpresa.
Já conhecedora da perspicácia e velocidade de raciocínio da amiga, Ada confirma.
— Sim. Responde. — Mas não apenas por isso. Venha comigo.
Ambas passam pela corrida de água que descia ao lago e seguem por uma estreita passagem natural.
Uma nova gruta lá se encontrava acima da anterior, e nela podia se ver musgos nas pedras, peixes num pequeno lago, além de raízes que saiam pelas rochas mais ao alto. Essa diversidade representava a vida naquele novo espaço.
Um corredor de água ainda maior descia a primeira gruta, mas algo diferente é notado por Ariadne.
— Mas como? Indaga Ariadne curiosa. — Por onde ...
Ada prevendo a reação de dúvida, responde.
— Por baixo. Reponde Ada, antes mesmo de Ariadne terminasse a pergunta. — A ligação é subterrânea.
Elas seguem por uma trilha ainda mais íngreme, e a luz do sol então se faz presente. Saindo da gruta uma modesta floresta lá estava.
Com uma vegetação mais densa do que de costume àquela região, somado a presença de animais e pelo ambiente mais quente, tratava-se de um verdadeiro oasis naquelas terras geladas.
Podia-se ver o pequeno curso d'agua que serpenteava a leste da floresta e entrava por uma pequena fenda na rocha.
— Essa energia é a energia natural dessas montanhas, chamada de "Unidade da Natureza". Explica Ada. — Entrando em harmonia com essa Unidade é possível controlá-la, e quem o fizer terá em mãos um poder quase infinito. A integração da vida vegetal e animal, e da energia mineral manteve a fonte intacta ao poder do Kraken.
A explicação dada deixa Ariadne surpresa. Ela compara as informações e fica ainda mais confusa.
— Mas ... A fonte não funcionava. A água não circulava. Afirma Ariadne.
Ada calmamente explica a relação dos fatos.
— A água não circulava, mas lá existia. Sua conexão era pelas rachaduras da antiga construção. A Unidade da Natureza protegeu a fonte de Dimi de Kraken.
Ada e Ariadne começam a voltar para a gruta. O retorno é silencioso, permitindo a Ariadne refletir o quanto aprenderá naqueles poucos momentos com sua jovem sábia amiga.
— Mas, há quanto tempo sabe disso? Indaga Ariadne.
Ada sorri.
— Sempre soube, mas era sigilo. Responde. — Não entendi no começo, quando minha mãe me contou. Mas quando vi a gruta e subi a floresta pude compreender completamente. Assim que voltei procurei a gruta e virei sua protetora, e agora todos sabem e a mantém longe de estranhos.
Ariadne naquele momento entende porque sempre mantiveram a montanha isolada no passado.
A caminhada segue e ao avistar a primeira gruta, Ada recorda mais uma vez do passado.
— Já estivemos na gruta, lembra-se disso Ariadne? Saudosa indaga Ada. Minha mãe nos trouxe. Achamos que o céu tinha se mudado para cá. Foi um ano antes do massacre. Essa data ficará marcada em minha alma.
Ela se lembra do susto que tivera na ocasião.
— Lembro sim, amiga. Responde Ariadne. — Também me lembro dos pergaminhos sobre as estrelas.
Coincidentemente ou não, ambas chegam a uma das grutas e Ada para.
— Chegamos! Diz Ada na Biblioteca.
Ariadne para, olha ao redor e fica pensativa ...
— Os pergaminhos ... Como ver a estrela mais brilhante .. Contar quantas vezes brilhava ... Comparar o brilho ... Me lembro como se fosse hoje ... Talvez não tenha levado tão na brincadeira assim.
Ada nota que Ariadne parecia estar em outro mundo e brinca.
— No mundo da lua? Lembrando-se da infância?
Ariadne ri.
— Sim. Lembrando-me dos ensinamentos de tua mãe. Responde. — De como ler as estrelas.
Ada lembra-se de algo e resmunga.
— Lendo as estrelas descobri algo ... Mas não posso te contar. É algo que já sabia, mas não havia me dado conta. Um dia talvez você saiba.
Ada se encaminha a saída da gruta e Ariadne curiosa pergunta.
— O que você descobriu?
Ada ri.
— Não posso dizer, já disse. Responde Ada. — Desculpe. Mas apesar de ser verdade, é assim que se faz um curioso. O baú a sua direita tem o que procuras. Bom estudo, amiga. Foi um enorme prazer vê-la novamente. Não se esqueça do jantar. É na hora de sempre.
Ada segue pela montanha em direção ao lado de fora.
— Obrigado amiga. Diz Ariadne. — O caminho eu já sei. Deixa comigo.
Ada balança a cabeça e segue seu caminho. Ariadne tinha muito a estudar.
Na gruta Ariadne devora o conhecimento dos pergaminhos relembrando-se de muitas coisas que ainda criança aprendera.
À noite Ada e Ariadne vão a plataforma de gelo apreciar o céu, como uma aula prática a tudo que aprendera Ariadne naquele dia.
Contemplando o céu nada em especial notara Ariadne, até que seus olhos alcançam a constelação de gêmeos. Ela a observa atentamente e fica pensativa.
— Que estranho... A constelação de Gêmeos brilha diferente... Do jeito que brilhava antes daquela tragédia... Será que ... Ele está vivo? ... Não pode ser!
Ada vendo Ariadne pensativa olha para o que tão fixamente ela olhava. Ela descobre ser a constelação de Gêmeos de brilho renovado.
— Gêmeos? Pergunta Ada.
Ariadne estava tão concentrada que se assusta com a pergunta.
— Humm? Reage Ariadne que não ouvira a frase de Ada.
Ada entende o que Ariadne olhava tão estranhamente.
— Gêmeos recuperou seu brilho. Diz Ada. — Há alguns dias. É estranho.
Para isso só há uma explicação. Pensa Ada
— Sig e Ozir. Diz Ada. Os gêmeos e a tragédia.
Ariadne olha admirada com o nível de informação de Ada.
— Então conheces a história? Pergunta.
Ada séria corre seu olhar as estrelas do céu.
— Sei de muitos acontecimentos do exército de Atena, mesmo não sendo parte dele. Conheço a história de Sig e Ozir. Tenho a sensação de que essa história ainda não acabou. Vi o que você viu no céu. Sig, de alguma forma ... mantém viva a chama de Gêmeos. Deve haver alguma explicação para isso.
Ariadne volta seu olhar a Ada.
— Com certeza. Concorda Ariadne. — Mas, me diga Ada, não tem um dom especial? Algo que a consagre amazona de Atena?
Ada, abaixa a cabeça e lança a Ariadne um olhar cabisbaixo.
— Não tenho. Responde. — Já me frustrei por isso, mas hoje sei que posso ajudar assim mesmo. Estou feliz do jeito que sou. Posso ajudar Atena mantendo vivas muitas coisas, como a chama do conhecimento: a biblioteca de Graad, a biblioteca de Atena!
Ada se levanta e segue à vila, deixando Ariadne com as estrelas do céu.
— Fique com as estrelas, Ariadne. Não encontrarás companhia melhor. Além de belas, elas te contam muitas coisas. Basta saber ler e entender
No caminho pensa Ada.
— Mas não podemos saber de tudo ... Assim está escrito nas estrelas... E no destino ...
Ada lembra-se do importante encontro que tivera há dias atrás.
— Atena! ... Ela não se esqueceu de mim ... Meu sonho de menina se realizou ... Pena não poder contar a ninguém ... Nem mesmo a minha grande amiga ... Tenho certeza que Ariadne ficaria muito feliz ... Mas sei que ficará feliz mesmo sem saber ... pois minha missão é mantê-la sempre feliz ...
TEMPLO DE ATENA, ATENAS - GRÉCIA
Ozir, O Cavaleiro de Ouro de Gêmeos e Grande Mestre, Comandante do Exército de Atena, é anunciado pelos soldados para audiência com Atena.
— Entre Ozir. Pronuncia-se Atena. — O que o traz aqui? Pergunta Atena após a reverência de Ozir. — Algum problema?
Ozir se levanta e demonstra estar muito nervoso.
— Não um problema, mas uma estranheza. Responde Ozir.
Com a tranquilidade digna de Atena, ela se antecipa a Ozir
— Refere-se a constelação de Gêmeos, suponho.
Os olhos de Ozir brilham, na expectativa de ouvir algo positivo de Atena.
— Sim, Atena. Ela recuperou seu brilho perdido. Reacendeu sua chama. Será possível ... Sig estar vivo?
Atena abaixa a cabeça por um breve instante.
— Infelizmente não posso responder tua pergunta Ozir.
Ozir ao ver a deusa desse modo desanima, mas Atena a levanta em seguida.
— Tenhas certeza de algo, Ozir. Sig se foi bravamente. Lutando como um Cavaleiro.
Ozir se lembra da infância, e da determinação e poder de Sig.
— Como o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos. Completa Ozir.
— Sim. Diz Atena.
Ozir, sempre recatado e firme em seu semblante visto a posição que ocupava, naquele momento esboçava uma grande tristeza.
— Daria tudo para tê-lo ao meu lado. Saudoso, diz Ozir. — O brilho intensificado de gêmeos que se fez há dias atrás no céu, alegrou minha alma. E o fato de Anryu não ter achado seu espírito vagante pelo Yomotsu ... me encheu de esperanças.
Atena esboça um sorriso e caminha em direção a Ozir.
— Acalme-se Ozir, Pondera Atena. — Sig estará sempre ao teu lado. Mais perto do que imaginas. Dentro de teu coração.
A deusa ao caminhar emana seu cosmo, e o calor chega lentamente a Ozir.
— Sei disso, Atena. Aceita Ozir.
Atena toca o ombro de Ozir que se ajoelha em reverência.
— Sig a mim fez uma promessa, antes de seu desaparecimento. Diz Atena. — Que jamais o abandonaria. Sua lembrança e calor habitam esse lugar. Seu cosmo arde junto ao de todos que defendem a justiça. Em especial ao teu. Livre tua mente dessas preocupações. Sig está entre nós! Ele sempre estará!
Ozir estava mais calmo, aquecido pelo cálido cosmo de Atena.
— Eu sinto sua presença. Diz Ozir. — Obrigado por afastar essa sombra de meu coração, minha deusa Atena. Voltarei a meus afazeres. Sabes de notícias de Ariadne e sua missão? Pergunta.
Atena sorri.
— Está tudo caminhando como planejado, segundo me foi informado de Graad. Responde Atena. Lyra e Leo devem estar de volta em breve.
Ozir retorna ao seu semblante serio normal.
— Certo. Diz Ozir. — Teneo e Anryu estão trabalhando nas áreas de treinamento, e Régia está a postos. Informa Ozir.
— E isso está muito bom. Conclui Atena. — Obrigado pelo bom trabalho, Ozir.
— De nada, reponde Ozir. — Apenas cumprimos nosso dever pelo bem da humanidade.
Atena sente que afastara a grande angústia do coração de Ozir, mas sabe que a dor lá permanecerá para sempre. Atena sorrindo concorda com seu soldado mais valioso.
Ozir reverencia Atena, com a mente de volta a suas atividades.
— A deixarei a sós. Conclui o momento Ozir. — E novamente Obrigado.
Atena sorri, certa da fidelidade de seu Cavaleiro.
— De nada. Diz Atena. — Zelemos uns pelos outros, e todos ficaremos sempre bem e a salvo.
Ozir completa sua reverência e sai. Atena pensa na verdade por trás da chama do signo de Gêmeos.
Ele está ao seu lado, Ozir... Sempre ... Pensa Atena.
O BRILHO DE GÊMEOS SE INTENSIFICA NO CÉU E É NOTADO POR TODOS. QUAIS SEGREDOS GUARDARÃO OS ACONTECIMENTOS DOS ÚLTIMOS DIAS.
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