terça-feira, 15 de novembro de 2016

Capítulo 011 - A chama do Signo de Gêmeos


A Ordem dos Guardiões estava nascendo, e era necessário iniciar o treinamento dos Aurum e das Auras.

O grande desafio era recrutar os homens e mulheres que vestiriam as Crystallus, dispostos a agir secretamente pelo bem do exército de Atena.

Contam os antigos que todo ser humano nasce sob a proteção de uma estrela. Algumas de brilho intenso, outras nem tanto.

Algumas pessoas nascem sob a proteção de uma constelação, esses são especialmente capazes de utilizar todo o seu potencial, despertar todo o seu Universo interior. Esses privilegiados são os potenciais Cavaleiros e Amazonas de Atena.

Mas há pessoas que possuem proteção igual, mas tem sua força vital regida especialmente por uma estrela, a mais brilhante de sua constelação. A essas pessoas Atena reservou as vestes de cristal, e a honra de compor a sua nova ordem de guerreiros.

Nessa fase do projeto de Atena compreender as estrelas e seu brilho seria essencial, mas para isso a deusa já tinha seus planos.

Ariadne sob ordens de Atena foi para a Sibéria — Vila de Graad, outrora duramente castigada pelas forças de Poseidon, para conhecer o que registraram os sábios antigos sobre a arte de ler as estrelas.

LESTE DA SIBÉRIA

Saudosa de tudo que ocorrera ali num passado não muito distante, Ariadne reencontra sua amiga Ada.

— Há quanto tempo, Ada. Saiu de Atenas sem dar notícias. Sem se despedir. Fiquei preocupada.

Sorridente, Ada recebe a velha amiga.

— Seja bem vinda de volta. Comigo está tudo bem, Ariadne. Estou muito feliz por revê-la, amiga.

Elas se abraçam longamente, matando as saudades de muito tempo separadas.

— Soube que estavam reconstruindo a vila, e vim ajudar na reconstrução. Voltei para casa, só isso. Responde Ada.

Ariadne retribui a calorosa recepção com um largo sorriso.

— Isso me deixa muito feliz. Sorri Ariadne.

Ada, informada previamente da missão da amiga, a confirma.

— Vieste conhecer a biblioteca, estou certa? Sob ordens de Atena.

Surpresa com o rígido planejamento de Atena a recém-chegada franje a testa.

— Recebemos de Atenas um comunicado. Informa Ada.

— Sim. Confirma Ariadne. — Você se lembra de quando minha mãe nos ensinava? Sua mãe, desculpe ... Ariadne fica preocupada.

As lembranças do retorno de Aria a vila devastada ainda povoavam a mente das duas amigas.

— Não se preocupe. Diz Ada sorrindo. — Vi quando Atena a levou. Sei que está bem onde quer que esteja.

Ariadne se lembra dos momentos felizes com saudade.

— Sim, era divertido e sempre levávamos na brincadeira.

Ada, com um semblante mais sério retorna a conversa à realidade, e na missão que trazia Ariadne àquele lugar novamente.

— Mas agora Atena precisa de nós, e do que aprendemos com minha mãe. Afirma Ada.

Feliz com o amadurecimento de Ada, Ariadne volta a sua atenção ao presente, com a empolgação da época da infância.

— E a ajudaremos! Com certeza. Afirma a amazona de Aquário.

A jovem anfitriã sorri, e junto a Ariadne segue para a nova Vila de Graad.

Elas caminham até uma casa modesta construída no pé de uma montanha. No local haviam materiais diversos, mas nenhum deles aparentava tratar do assunto que ali a levara.

Mais ao fundo, depois de um corredor num simples cômodo encontrava-se uma estranha parede de madeira. Ada move parte da parede e um corredor entre as pedras montanha adentro se mostra. Ada segue por ele e Ariadne sem nada entender faz o mesmo.

A umidade do local só aumentava, e o barulho de águas caindo também. Após uns cem metros de caminhada numa trilha montanha acima, a luz avistada desde o começo do caminho torna-se mais intensa. Era uma belíssima gruta, onde se encontrava a verdadeira biblioteca de Graad.

No local via-se prateleiras de madeira e muitos pergaminhos expostos. Diversos baús com inscrições dos mais diversos assuntos também podia se ver.

No teto estava a explicação da intensa luz vista desde o começo da trilha, um universo de diamantes como rico ornamento, lembrando nitidamente uma noite de céu limpo. O ambiente tinha uma agradável temperatura, visto a corrida de água que descia do alto da montanha, formava um pequeno lago, e mais a frente seguia montanha abaixo.

Uma estranha sensação de bem estar se sentia. Uma forte energia envolvia aquele lugar, como se as águas possuíssem uma cosmo-energia própria.

Ariadne olha mais atentamente a descida de água ao pé da montanha e se localiza.

— Estamos no alto da montanha, e mais abaixo é a fonte. Será por isso que a fonte resistiu ao ataque do Kraken? Esta energia ... Ariadne estava surpresa.

Já conhecedora da perspicácia e velocidade de raciocínio da amiga, Ada confirma.

— Sim. Responde. — Mas não apenas por isso. Venha comigo.

Ambas passam pela corrida de água que descia ao lago e seguem por uma estreita passagem natural.

Uma nova gruta lá se encontrava acima da anterior, e nela podia se ver musgos nas pedras, peixes num pequeno lago, além de raízes que saiam pelas rochas mais ao alto. Essa diversidade representava a vida naquele novo espaço.

Um corredor de água ainda maior descia a primeira gruta, mas algo diferente é notado por Ariadne. 

— Mas como? Indaga Ariadne curiosa. — Por onde ...

Ada prevendo a reação de dúvida, responde.

— Por baixo. Reponde Ada, antes mesmo de Ariadne terminasse a pergunta. — A ligação é subterrânea.

Elas seguem por uma trilha ainda mais íngreme, e a luz do sol então se faz presente. Saindo da gruta uma modesta floresta lá estava.

Com uma vegetação mais densa do que de costume àquela região, somado a presença de animais e pelo ambiente mais quente, tratava-se de um verdadeiro oasis naquelas terras geladas.

Podia-se ver o pequeno curso d'agua que serpenteava a leste da floresta e entrava por uma pequena fenda na rocha.

— Essa energia é a energia natural dessas montanhas, chamada de "Unidade da Natureza". Explica Ada. — Entrando em harmonia com essa Unidade é possível controlá-la, e quem o fizer terá em mãos um poder quase infinito. A integração da vida vegetal e animal, e da energia mineral manteve a fonte intacta ao poder do Kraken.

A explicação dada deixa Ariadne surpresa. Ela compara as informações e fica ainda mais confusa.

— Mas ... A fonte não funcionava. A água não circulava. Afirma Ariadne.

Ada calmamente explica a relação dos fatos.

— A água não circulava, mas lá existia. Sua conexão era pelas rachaduras da antiga construção. A Unidade da Natureza protegeu a fonte de Dimi de Kraken.

Ada e Ariadne começam a voltar para a gruta. O retorno é silencioso, permitindo a Ariadne refletir o quanto aprenderá naqueles poucos momentos com sua jovem sábia amiga.

— Mas, há quanto tempo sabe disso? Indaga Ariadne.

Ada sorri.

— Sempre soube, mas era sigilo. Responde. — Não entendi no começo, quando minha mãe me contou. Mas quando vi a gruta e subi a floresta pude compreender completamente.  Assim que voltei procurei a gruta e virei sua protetora, e agora todos sabem e a mantém longe de estranhos.

Ariadne naquele momento entende porque sempre mantiveram a montanha isolada no passado.

A caminhada segue e ao avistar a primeira gruta, Ada recorda mais uma vez do passado.

— Já estivemos na gruta, lembra-se disso Ariadne? Saudosa indaga Ada. Minha mãe nos trouxe. Achamos que o céu tinha se mudado para cá. Foi um ano antes do massacre. Essa data ficará marcada em minha alma.

Ela se lembra do susto que tivera na ocasião.

— Lembro sim, amiga. Responde Ariadne. — Também me lembro dos pergaminhos sobre as estrelas.

Coincidentemente ou não, ambas chegam a uma das grutas e Ada para.

— Chegamos! Diz Ada na Biblioteca.

Ariadne para, olha ao redor e fica pensativa ...

— Os pergaminhos ... Como ver a estrela mais brilhante .. Contar quantas vezes brilhava ... Comparar o brilho ... Me lembro como se fosse hoje ... Talvez não tenha levado tão na brincadeira assim.

Ada nota que Ariadne parecia estar em outro mundo e brinca.

— No mundo da lua? Lembrando-se da infância?

Ariadne ri.

— Sim. Lembrando-me dos ensinamentos de tua mãe. Responde. — De como ler as estrelas.

Ada lembra-se de algo e resmunga.

— Lendo as estrelas descobri algo ... Mas não posso te contar. É algo que já sabia, mas não havia me dado conta. Um dia talvez você saiba.

Ada se encaminha a saída da gruta e Ariadne curiosa pergunta.

— O que você descobriu?

Ada ri.

— Não posso dizer, já disse. Responde Ada. — Desculpe. Mas apesar de ser verdade, é assim que se faz um curioso. O baú a sua direita tem o que procuras. Bom estudo, amiga. Foi um enorme prazer vê-la novamente. Não se esqueça do jantar. É na hora de sempre.

Ada segue pela montanha em direção ao lado de fora.

— Obrigado amiga. Diz Ariadne. — O caminho eu já sei. Deixa comigo.

Ada balança a cabeça e segue seu caminho. Ariadne tinha muito a estudar. 

Na gruta Ariadne devora o conhecimento dos pergaminhos relembrando-se de muitas coisas que ainda criança aprendera.

À noite Ada e Ariadne vão a plataforma de gelo apreciar o céu, como uma aula prática a tudo que aprendera Ariadne naquele dia.

Contemplando o céu nada em especial notara Ariadne, até que seus olhos alcançam a constelação de gêmeos. Ela a observa atentamente e fica pensativa.

— Que estranho... A constelação de Gêmeos brilha diferente... Do jeito que brilhava antes daquela tragédia... Será que ... Ele está vivo? ... Não pode ser!

Ada vendo Ariadne pensativa olha para o que tão fixamente ela olhava. Ela descobre ser a constelação de Gêmeos de brilho renovado.

— Gêmeos? Pergunta Ada.

Ariadne estava tão concentrada que se assusta com a pergunta.

— Humm? Reage Ariadne que não ouvira a frase de Ada.

Ada entende o que Ariadne olhava tão estranhamente.

— Gêmeos recuperou seu brilho. Diz Ada. — Há alguns dias. É estranho.

Para isso só há uma explicação. Pensa Ada

— Sig e Ozir. Diz Ada. Os gêmeos e a tragédia.

Ariadne olha admirada com o nível de informação de Ada.

— Então conheces a história? Pergunta.

Ada séria corre seu olhar as estrelas do céu.

— Sei de muitos acontecimentos do exército de Atena, mesmo não sendo parte dele. Conheço a história de Sig e Ozir. Tenho a sensação de que essa história ainda não acabou. Vi o que você viu no céu. Sig, de alguma forma ... mantém viva a chama de Gêmeos. Deve haver alguma explicação para isso.

Ariadne volta seu olhar a Ada.

— Com certeza. Concorda Ariadne. — Mas, me diga Ada, não tem um dom especial? Algo que a consagre amazona de Atena?

Ada, abaixa a cabeça e lança a Ariadne um olhar cabisbaixo.

— Não tenho. Responde. — Já me frustrei por isso, mas hoje sei que posso ajudar assim mesmo. Estou feliz do jeito que sou. Posso ajudar Atena mantendo vivas muitas coisas, como a chama do conhecimento: a biblioteca de Graad, a biblioteca de Atena!

Ada se levanta e segue à vila, deixando Ariadne com as estrelas do céu.

— Fique com as estrelas, Ariadne. Não encontrarás companhia melhor. Além de belas, elas te contam muitas coisas. Basta saber ler e entender

No caminho pensa Ada.

— Mas não podemos saber de tudo ... Assim está escrito nas estrelas... E no destino ...

Ada lembra-se do importante encontro que tivera há dias atrás.

— Atena! ... Ela não se esqueceu de mim ... Meu sonho de menina se realizou ... Pena não poder contar a ninguém ... Nem mesmo a minha grande amiga ...  Tenho certeza que Ariadne ficaria muito feliz ... Mas sei que ficará feliz mesmo sem saber ... pois minha missão é mantê-la sempre feliz ...

TEMPLO DE ATENA, ATENAS - GRÉCIA

Ozir, O Cavaleiro de Ouro de Gêmeos e Grande Mestre, Comandante do Exército de Atena, é anunciado pelos soldados para audiência com Atena.

— Entre Ozir. Pronuncia-se Atena. — O que o traz aqui? Pergunta Atena após a reverência de Ozir. — Algum problema? 

Ozir se levanta e demonstra estar muito nervoso.

— Não um problema, mas uma estranheza. Responde Ozir.

Com a tranquilidade digna de Atena, ela se antecipa a Ozir

— Refere-se a constelação de Gêmeos, suponho.

Os olhos de Ozir brilham, na expectativa de ouvir algo positivo de Atena.

— Sim, Atena. Ela recuperou seu brilho perdido. Reacendeu sua chama. Será possível ... Sig estar vivo?

Atena abaixa a cabeça por um breve instante.

— Infelizmente não posso responder tua pergunta Ozir.

Ozir ao ver a deusa desse modo desanima, mas Atena a levanta em seguida.

— Tenhas certeza de algo, Ozir. Sig se foi bravamente. Lutando como um Cavaleiro.

Ozir se lembra da infância, e da determinação e poder de Sig.

— Como o Cavaleiro de Ouro de Gêmeos. Completa Ozir.

— Sim. Diz Atena.

Ozir, sempre recatado e firme em seu semblante visto a posição que ocupava, naquele momento esboçava uma grande tristeza.

— Daria tudo para tê-lo ao meu lado. Saudoso, diz Ozir. — O brilho intensificado de gêmeos que se fez há dias atrás no céu, alegrou minha alma. E o fato de Anryu não ter achado seu espírito vagante pelo Yomotsu ... me encheu de esperanças.

Atena esboça um sorriso e caminha em direção a Ozir.

— Acalme-se Ozir, Pondera Atena. — Sig estará sempre ao teu lado. Mais perto do que imaginas. Dentro de teu coração.

A deusa ao caminhar emana seu cosmo, e o calor chega lentamente a Ozir.

— Sei disso, Atena. Aceita Ozir.

Atena toca o ombro de Ozir que se ajoelha em reverência.

— Sig a mim fez uma promessa, antes de seu desaparecimento. Diz Atena. — Que jamais o abandonaria. Sua lembrança e calor habitam esse lugar. Seu cosmo arde junto ao de todos que defendem a justiça. Em especial ao teu. Livre tua mente dessas preocupações. Sig está entre nós! Ele sempre estará!

Ozir estava mais calmo, aquecido pelo cálido cosmo de Atena.

— Eu sinto sua presença. Diz Ozir. — Obrigado por afastar essa sombra de meu coração, minha deusa Atena. Voltarei a meus afazeres. Sabes de notícias de Ariadne e sua missão? Pergunta.

Atena sorri.

— Está tudo caminhando como planejado, segundo me foi informado de Graad. Responde Atena. Lyra e Leo devem estar de volta em breve.

Ozir retorna ao seu semblante serio normal.

— Certo. Diz Ozir. — Teneo e Anryu estão trabalhando nas áreas de treinamento, e Régia está a postos. Informa Ozir.

— E isso está muito bom. Conclui Atena. — Obrigado pelo bom trabalho, Ozir.

— De nada, reponde Ozir. — Apenas cumprimos nosso dever pelo bem da humanidade.

Atena sente que afastara a grande angústia do coração de Ozir, mas sabe que a dor lá permanecerá para sempre. Atena sorrindo concorda com seu soldado mais valioso.

Ozir reverencia Atena, com a mente de volta a suas atividades.

— A deixarei a sós. Conclui o momento Ozir. — E novamente Obrigado.

Atena sorri, certa da fidelidade de seu Cavaleiro.

— De nada. Diz Atena. — Zelemos uns pelos outros, e todos ficaremos sempre bem e a salvo.

Ozir completa sua reverência e sai. Atena pensa na verdade por trás da chama do signo de Gêmeos.

Ele está ao seu lado, Ozir... Sempre ... Pensa Atena.


O BRILHO DE GÊMEOS SE INTENSIFICA NO CÉU E É NOTADO POR TODOS. QUAIS SEGREDOS GUARDARÃO OS ACONTECIMENTOS DOS ÚLTIMOS DIAS.

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