sábado, 16 de novembro de 2019

Capítulo 027 - O som e o silêncio


O campo de treinamento das amazonas começava a ser construído sob o comando de Lily de Aquila.

Max de Órion, recém-consagrado cavaleiro de prata, começava a desempenhar funções no exército de Atena, junto aos colegas de bronze.

Rívia após a ressonância com a armadura de Áries enfim despertou sua constelação protetora, Corona Borealis, bem como a sua irmã Maria, protegida pelas estrelas de Corona Australis.

Os dias se passam e as novidades nos treinamentos dos cavaleiros, amazonas, aurums e auras não cessavam, para a alegria de Atena.

Os cavaleiros negros continuavam a sua movimentação pelo mundo, e preocupado com essas ações o Grande Mestre Ozir decide enviar cavaleiros e amazonas para esses locais a fim de proteger as pessoas.

De forma semelhante ao feito há meses atrás durante a fase de reconhecimento, grupos de guerreiros liderados pela patente de prata seguiam as partes da terra onde haviam se registrado ataque recentes dos cavaleiros negros. Esses novos grupos eram liderados por cavaleiros e amazonas mais experientes, com supervisão de cavaleiros e amazonas de ouro.

Observando o céu, e as relações entre guerreiros já estabelecidas, Ozir de Gêmeos associa cavaleiros e amazonas das patentes de prata e bronze aos doze cavaleiros de ouro na proporção de dois guerreiros de prata e quatro guerreiros de bronze a cada cavaleiro dourado.

A relação gerada por Ozir contemplava todas as oitenta e oito constelações, apesar de haver apenas quarenta e seis cavaleiros em atividade ou na iminência de estarem.

Segundo organizado por Ozir, dentre os cavaleiros e amazonas em atividade estavam Corona Borealis, Corona Australis e Pegasus junto a Leo de Aries; Hércules e Cerberus com Teneo de Touro; Lince, Lacerta e Cefeu com ele próprio; Grus e Crux com Aryu de Cancer; Camaleão e Orion com Aaron de Leão; Triangulo e Lyra com Celes de Virgem; Bússola, Monocerus e Altar com Ian de Libra; Escultor com Joei de Escorpião; Sextante, Serpens e Tucana com Donni de Sagitário; Lebre e Raposa com Sallas de Capricórnio; Cisne, Hidrus, Pavão e Sagitta com Ariadne de Aquário; Pisces Austrinus e Volans com Régia de Peixes.

Algumas constelações, pela relação direta de seus guerreiros com Atena atuavam de forma independente, apesar de figurarem na organização de Ozir associados a constelações da elíptica solar. Eram elas Dragão,  Aquila, Ophyucus, Pavão e Phoenix.

Dentre os lideres das tropas haviam prodígios como Elisa de Lacerta, Max de Órion e Adonis de Altar, recém-consagrados, mas com nível de habilidades equivalentes a Lubian de Pavão, Maia de Cepheu e Silas de Hércules. Outros cavaleiros de bronze de altíssimo nível também lideravam tropas como Ankaa de Phoenix, Talia de Dragão. Completando a lista de lideres de tropas havia Tuk de Cerberus, Adam de Sagitta, Sobis de Triângulo e Karl de Lyra.

As tropas partiam uma após a outra para destinos diversos, mas apesar da medida o Grande Mestre Ozir estava preocupado. O exército inimigo se fortalecia, e desta vez um soldado de alto nível possivelmente estava entre eles, Marcus.

O cosmo negro despertado durante a luta pela armadura de Órion, contra Max não fora coincidência, nem passou despercebido por Ozir e Aaron. Eles sabiam que a justiça da armadura de Órion prevaleceria.

Ozir sabia que alguém estava fazendo algo para reverter o caminho previsto para Marcus, e contava com isso.

VILA DO SANTUÁRIO

Dias depois da perda da armadura de Órion, Marcus ainda estava no Santuário. Apesar da abordagem dos cosmos negros, Marcus ainda não se decidira.

Ele caminhava pela vila do Santuário, bem mais calmo. As pessoas lembravam dele e do incidente estranho que o envolveu. Ele pensara em visitar a casa de Rívia e suas irmãs, mas ela estava visivelmente vazia com a porta entreaberta. Ainda que vazia algo na casa o atraia: Uma melodia triste que ecoava em sua mente.

Marcus entra e no centro do lugar estava uma mulher de longos cabelos tão negros quanto sua armadura. Ela estava de costas, e na medida que ela virava para Marcus podia-se ver sua lira, que tocava magistralmente. Sua pele alva contrastava com os tons negros de sua armadura, e com as notas obscuras tocadas pelo passar dos longos dedos da amazona negra na lira. Sua canção triste agora passava a ser agradável aos ouvidos de Marcus.

As notas da lira inundavam a percepção e a razão de Marcus, trazendo a tona as ações agressivas e possessivas tomadas outrora pelo jovem. As sensações que antes lhe davam prazer agora lhe causavam dor, fazendo Marcus gritar. A amazona negra sorri.

Marcus estava inebriado e começava a gostar da dor, quando outra canção interfere, e suaviza o som ambiente.

O jovem cujo coração estava em disputa volta a sentir dor no sentido real, e acaba desolado como se tivesse sido esvaziado.

A nova melodia adentra a casa, e se via Karl de Lyra que chegava para contrapor a desconhecida amazona negra de Lyra.

O grupo de Karl partiria minutos atrás em barco para as mesmas terras onde Sallas de Capricórnio enfrentara o Touro Negro, mas ao perceber o cosmo hostil e a melodia da lira negra teve sua partida adiada. Sula de Camaleão retira Marcus do local, e deixa o experiente cavaleiro de Atena no combate.

A presença de cavaleiros e amazonas nas proximidades da mesma casa onde ocorrera um princípio de confronto dias atrás, deixava a todos preocupados coma segurança da vila.

Tobias de Unicórnio tranquiliza a todos em volta, enquanto Cindy de Raposa corria o perímetro local para identificação de possíveis novos inimigos, bem como garantir a segurança do local.

No campo de treinamento dos guardiões, Nabili sentiu seu cristal brilhar, mas a aura em treinamento não havia brilhado seu cosmo.

Ela sentia que seu protegido em breve dedicaria sua vida em prol da Terra, e sentia-se impotente. Lyra toca seu ombro, e com um olhar pede que se acalme. A aura fecha os olhos e concentra-se em Karl.

Na casa da vila, local do confronto entre as liras, Karl sente que algo o olhava e estranhamente isso o deixava confortável. Ele sabia que isso poderia ser o diferencial no resultado da luta.

A amazona negra se incomoda e inicia sua canção buscando a fonte daquela energia externa, tão forte para tirar sua concentração e deixar Karl mais confiante.

Karl novamente se contrapõe a Lyra negra, e a melodia que tentava entrar no campo dos guardiões cessa.

Com vigor o cavaleiro de Atena tira de sua lira canções de notas baixas, mas com grande poder ofensivo. As notas visavam neutralizar as notas altas geradas pela lira negra.

— Notas baixas não podem contrapor o poderio de minha lira negra, cavaleiro de Atena. Afirma a amazona de Lyra Negra. — Eu, Dione de Lyra, irei te mostrar o verdadeiro poder da lira mitológica.

Dione intensifica as notas altas de sua lira, e uma onda negra varre todo o local, interferindo na mente de todos num raio de cinco quilômetros.

Tobias, Sula e Cindy sentem a força da melodia negras sugando suas energias, enquanto as pessoas curiosas que insistiam em ali próximo permanecerem caem imediatamente.

Karl sofre mas avança no toque de sua lira prateada. A armadura de Lyra começa a perder seu brilho, e as cordas do instrumento do cavaleiro começa a perder elasticidade.

NO CAMPO DOS GUARDIÕES

Nabili sente que seu protegido começa a perder cosmoenergia e se desconcentra. Ao abrir os olhos ela vê Lyra diante si com um firme olhar de confiança.

Em seu reduto oculto, Sarah pressentindo o pior pensa em se teleportar ao local, mas é contida por Luge que surge no momento exato.

— Aguarde Sarah! Diz Luge. — Muitas revelações estão por vir.

Sarah aguarda a reação de Sig, mas não recebe resposta. Ele decide confiar no instinto de Luge, e agir apenas no último segundo necessário.

No campo de treinamento Lyra segura as mão de Nabili com força.

— Você precisa se concentrar. Orienta Lyra. — Queime seu cosmo. Você consegue. Karl resistirá e você o ajudará. Tenho certeza disso.  Confio em você. Devolva o cosmo do cristal para o cavaleiro de Lyra.

Nabili sorri como que agradecendo pela confiança. Ela fecha os olhos e seu corpo começa a esquentar. Uma luz começa a emanar de seu corpo, e com seu cosmo em franco-expansão ela começa a cantarolar notas baixas.

NA VILA DO SANTUÁRIO

Na casa da vila do Santuário Karl vê sua lira perder todas as suas cordas, que opacas se rompem uma a uma. Sua armadura fica pesada, e com o forte dreno de energia vital pela lira negra, ele não resiste e cai de joelhos. Na parte externa da casa Tobias de Unicórnio e Sula de Camaleão já havia caído.

Dione de Lyra Negra tinha como certa sua vitória, quando uma cantiga singela de tons baixos chega, enche o local e se contrapõem a som de sua lira.

A amazona negra vê a energia vital de Karl retornar, e sua armadura opaca recuperar seu brilho prateado. A lira prateada continuava com suas cordas rompidas, mas a energia que conectava aquela cantiga, o cavaleiro de Atena e sua armadura era impressionante.

Karl se levanta, olha para sua lira e a não a empunha. Ele abre os braços e fecha os olhos. Todo o som do ambiente é recolhido, como se ambos os oponentes fossem isolados do resto do mundo.

O silêncio era inconveniente, e nem mesmo a própria voz Dione ouvia.

Karl recolhe seus braços, posiciona sua mão direita em forma de cuia diante sua boca e sopra, abrindo seus olhos.

A mente de Dione vem uma frase num tom ainda mais baixo do que até então foi insistentemente emitido por Karl: “Som da Natureza”.

A frase inicia um turbilhão de sons todos os timbres misturados como um som branco.

O complexo som varre a mente de Dione como se ensurdecesse seus pensamentos.

Dione fica surda, e seus ouvidos sangravam. Sua mente vazia trazia a tona sua real aparência: uma carcaça de pessoa que sem equilíbrio cai.

Todos no lado de fora da casa já estavam conscientes, pois uma cantiga doce e suave trouxe a todos de volta do abismo para onde pareciam ter sido jogadas suas memórias.

Diferente dos moradores da vila, que pareciam retornar de um pesadelo, Tobias, Sula e Cindy sabiam se tratar de algum feito de Atena, ou de algum de seus colegas cavaleiros ou amazonas. Karl já havia percebido essa presença desde o inicio de sua luta.

Em uma fração de segundos uma voz ecoa a mente de Karl, Tobias, Sula e Cindy.

— “Barreira Sagrada”

A voz suave retira da memória dos quatro guerreiros de Atena a sensação da cosmoenergia revigorante que os alcançou.

NO CAMPO DOS GUARDIÕES

Nabili já estava de volta de seu momento. Ela salvara a todos os guerreiros e pessoas utilizando o limite de proteção de um guardião a seu cavaleiro ou amazona.

O potencial de Nabili toca a percepção de Sig, Teon e Atena, em especial pelo antigo plano de Teon de formar um time de guardiões de elite, aptos a proteger guerreiros além de seu protegido, como podia fazer Sig e Lyra.

Os guardiões de elite já existiam, e Teon já tinha sentido suas presenças, sendo uma dela em especial. A manutenção desse segredo era feito em respeito a Lyra, pois temia-se que sua reação pudesse ser prejudicial a seu equilíbrio emocional como pessoa.

Nabili estava empolgada, e seu desempenho incentivara a todos. Annie, Zaque e Lúcio eram os mais animados.

A Ordem de Serpentário seguia sua rotina de grandes saltos de qualidade.

NA VILA DO SANTUÁRIO

Karl sai da casa com Dione nos braços, e é recebido com alegria por Tobias, Sula e Cindy. Reservado ele retorna a saudação com a cabeça.

Todos estavam bem, incluindo Marcus, que já não sabia o que pensar. Os moradores saem aos poucos e ficam apenas os cavaleiros e amazonas de Atena, Marcus e Dione. Karl na verdade estava preocupado com o objeto negro deixado na casa.

— Tobias, entre e pegue a caixa de Pandora. Ordena Karl. — Precisamos levar essa urna ao Grande Mestre.

Tobias segue a sua tarefa, e Karl direciona seu olhar a Marcus.

— Você não foi o oponente de Max? Indaga o prateado.

— Sim. Responde Marcus. — As coisas deram errado para mim. Tenho feito muitas coisas erradas desde que cheguei aqui. Estou profundamente arrependido e confuso.

— Então venha conosco. Convida Karl. — O Grande Mestre é um homem sábio. Saberá ouvir e te aconselhar bem. Venha!

Tobias sai da casa puxando a caixa preta com dificuldade, e em seguida cai, apoiando um joelho no chão.

— A caixa ... Balbucia o cavaleiro. — Ela drena as forças.

O silêncio paira no ar, mas dura apenas poucos segundos.

— Deixe a urna. Ordena Celes de Virgem, que surge. — Descansem e levem a amazona e Marcus ao Grande Mestre.

Cindy apoia Tobias e Karl prossegue com Dione, acompanhados de Marcus e Sula que leva a lira com suas cordas soltas.

Tudo enfim voltara ao normal, mas aquela casa nunca mais seria vista da mesma maneira.

Celes leva a armadura negra, desaparecendo da mesma forma que apareceu.

Horas depois são anunciados ao Grande Mestre Ozir, Karl, Tobias, Sula, Cindy e Marcus. Essa audiência traria muitas novas informações sobre a batalha em curso.


UMA BATALHA, UM PODEROSO DESPERTAR, E O COMEÇO DO CAMINHO PARA A REDENÇÃO. UM DIA PROVEITOSO PARA OS PLANOS DE DEFESA DO EXÉRCITO DE ATENA.

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